domingo, 22 de julho de 2012

Resenha e desabafo sobre o filme O espetacular Homem Aranha


Inicialmente, gostaria de deixar claro que essa resenha visa explanar uma visão de equiparação do filme com o universo dos quadrinhos, não levando em consideração a qualidade técnica do filme, apesar de poder citá-lo em uma ou duas situações necessárias. E depois, haverá spoilers, ou seja, caso você não tenha assistido ao filme, não continue com a leitura e assista ao filme primeiro. Ao final da resenha, farei uma explanação pessoal sobre o que achei do filme como um todo e quais são expectativas do que pode vir do próximo filme do teioso. Como segurança, colocarei um espaço de segurança entre esse parágrafo e o próximo.
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                Quando a Sony construiu o universo do filme, segundo o produtor Avi Arad, CEO e fundador da Marvel Studios, departamento hoje que cuida das próprias produções cinematográficas e animações, queriam usar como pano de fundo o universo Ultimate (vide ilustração a abaixo), universo criado na Marvel no início dos anos 2000 que teria como intuito deixar a realidade dos heróis mais próxima possível da nossa realidade. Nesse universo Ultimate, tudo é um pouco mais caótico com relação aos atos dos heróis, levando em consideração os problemas pessoais de cada um, definindo o tipo de herói que é e o que o motivaria a fazer o que faz, defender pessoas estranhas sem se perguntar se merecem ou não e sem pedir nada em troca. Partindo disso, vamos ver como é o Peter Parker nessa versão mais atualizada dos quadrinhos.
Poster promocional. Universo Ultimate*

É apresentado a nós, um Peter Parker completamente cdf, com um quarto bagunçado ao extremo, lotado de livros e coisas feitas por ele, robozinhos e entre outros, vivendo na casa de seus tios nada idosos, Tio Ben e Tia May Parker, lembrando que o Tio Ben é o irmão do pai do Peter, só para atentar os desavisados. Nesse universo, o Peter Parker tem 15 anos e é esse o primeiro ponto que o filme do Espetacular Homem Aranha perde. Andrew Garfield nunca teria a aparência de 15 anos de idade. Se alguém disser que sim, então estou completamente fora dos conhecimentos sobre desenvolvimento do corpo humano, e não é porque estamos falando de um personagem de história de quadrinhos, que podem vir com a desculpa que isso é irrelevante. Todos os detalhes de uma adaptação da história do Ultimate Homem Aranha são relevantes, até demais. Por exemplo, o problema de bullying dele e seu sentimento de revolta é muito mais justificado para a idade dele, no universo ultimate, do que é apresentado no filme, sem mencionar seu senso de responsabilidade ainda prematuro, o que o torna inconseqüente em muito dos seus atos. E o coloca em uma situação difícil, ele tem de crescer. Se tornar responsável pela sua própria vida e a dos outros. E isso é a essência do Homem Aranha, é a sua moral. Essa mesma moral estragada no filme do Marc Webb, onde no final mostra que não importa a responsabilidade ou a promessa que faça, com tanto que ela seja passível de ser quebrada! Ponto completamente negativo para esse Homem Aranha que merece votos de retornar urgentemente para as mãos da Marvel Studios.
Versão ultimate tio Ben, tia May e Peter*
  
Outro ponto a ser observado é a questão da imagem mal explorada dos tios do Peter. No universo Ultimate, temos um tio Ben mais novo e fisicamente vigoroso, fazendo abrir perguntas que, se ler os quadrinhos, essas perguntas ficam para vocês mesmos pensarem nas respostas, dando mais valor a esse momento. Ainda, tem uma tia May muito mais nova, com comportamentos modernos de alguém completamente antenada às modernidades da atualidade e duplamente mãe, do Benjamin Parker e do Peter Benjamin Parker, ressaltando que o Ben apoia o Parker em muitas das coisas que faz, como um bom amigo. Tal relacionamente que nem se quer é visto direito no filme. 

Enquanto que no filme nós vemos uma relação bem apressada, na revista Ultimate Spiderman essa relação é mostrada em torno de duas ou três edições, em situações, com o perdão da criação da palavra, completamente prendível, sem ser cansativo. É bem motivador e inspirador, bem como deve ser as revistas do aracnídeo. Sem falar da maneira como o tio Ben morre nesse filme, apesar desse fato não pesar muito, mas como esse filme tem muitas falhas com relação ao que concerne ser uma adaptação de uma obra, logo então, tem peso, o tiozinho morre na rua em frente a um armazém que, novamente, é diferente do Ultimate, onde o tiozão morre em casa, na frente da May, com o ladrão invadindo a casa dos Parker. Mais pontos negativos para o espetacular filme.

Nem vou dizer que a cena da luta livre é completamente ignorada, outro ponto importante para a formação do herói. Então, farei o mesmo e vou pular o comentário relacionado a isso, já dizendo que isso faz do filme o pior de todos. 

Mary Jane, versão ultimate*
 Vamos voltar os nossos olhares agora para a outra personagem ícone da trama, que aqui novamente é ignorada pelo Studio Sony, pela segunda vez. Voltando um pouco no tempo, quando foi mencionada a produção do primeiro Homem Aranha, dirigido pelo Sam Raimi, foi dito que a adaptação seria com base no universo clássico do herói, e a personagem protagonista seria a Mary Jane, contrariando nesse ponto o universo clássico, que deveria ser a Gwen Stacy. Agora, a história se repete, colocando a Gwen Stacy no luga da Mary Jane, que é a personagem protagonista do universo Ultimate. Sendo assim, como a personalidade do herói pode ser adaptada com base na protagonista do clássico? É uma questão bem complexa, equivalendo a uma questão bem lógica se pararmos para pensar numa questão bem igualitária se colocarmos a série Game of Thrones, quando fazemos a pergunta " O que aconteceria se o personagem Ned Stark não tivesse morrido e/ou muito menos Kall Drogo?" São perguntas idênticas para realidades diferentes de um filme e de uma série. Será que os fãs do livro Game of Thrones gostariam da série se essas questões fossem ignoradas? Vale lembrar que houve um alvoroço por parte dos fãs de Harry Porter quando o final da série sofreu uma “pequena” mudança no cinema. 
Eu poderia acabar a minha resenha sobre o filme aqui mesmo, pois só por isso já faz do filme do Homem Aranha, com tem tantos buracos como se fosse uma peneira, mas gostaria de confrontar com mais um ponto interessante ignorado e que parece ser a única coisa que me pareceu interessante a se explorar no filme, que é o vilão, o Lagarto, interpretado por Rhys Iffans. Começando que esse personagem tem como alter ego o dr. Curt Connors (sim, Curt Connors é alter ego do Lagarto e não o contrário, levando em consideração ao quadrinho) não é nem a versão do clássico e nem da versão Ultimate. É um personagem novo, onde o roteirista tentou colocá-lo no patamar acima do que seria o vilão mais perigoso do universo do amigão da vizinhança, o Duende Verde, Norman Osborn, que nesse filme é dito que está morrendo, mas não diz de que. Ele é o responsável pela pesquisa por animais que possuem regeneração biológica, tendo como base o reino dos répteis, mais precisamente dos lagartos, que podem regenerar membros amputados. Só que ele tem um pequeno problema com seu complexo de Narcíso e isso é a desculpa perfeita para ele criar a fórmula que o tornaria mais para frente no grande vilão do filme. Novamente, vai contra as duas versões dos quadrinhos, pois ambos os universos clássico e ultimate, mostram um doutor com uma família, esposa e filho, e que procura uma solução para resolver seu problema de membros amputado, que é explicado nos quadrinhos, e poder ter uma vida mais normal com sua mulher e filho. E se analisarmos, agora o monstro, vemos um erro mais gritante, que é a sua inteligência, o lagarto original, dos quadrinhos, tanto ultimate quanto clássico, são completamente irracionais, com apenas um extinto de sobrevivência. Só lembrando, no universo clássico atualmente, a consciência do doutor Connors foi completamente suprimida pela do Lagarto, onde ele não retorna mais a forma humana.

Gwen Stacy, May e Mary Jane. Morte do Aranha*
 E para finalizar, mas não tanto óbvio para as pessoas que assistiram ao filme, mas é bom ressaltar já que esse filme apela para os erros, Nova York é gigante, mas o curioso que ela passou a ter problemas de infestação de lagartos, milhares de lagartinhos correm pelos esgotos e ruas de Nova York. Como isso é possível? Já não basta não seguir os quadrinhos, agora não segue os conhecimentos comuns sobre os problemas sanitários de uma cidade americana? É o mesmo que dizer que aqui em Belo Horizonte há uma infestação enorme de macacos. É universo Marvel, não universo DC comics, onde tudo é um faz de conta, ou falta me falarem que Gotham City existe? Ou Metrópoles! Ou quem sabe a Smallville?

Concluindo com considerações finais, digo que o filme do Homem Aranha, assim como os outros demais, não cumprem o papel de adaptação de obra, levando em consideração que histórias em quadrinhos são sim obras literárias e devem ser bem tratadas como tal. Estou sendo exagerado, talvez seja porque as desculpas para esse filme é a de que o Homem Aranha, em suas cenas de ação, faz as poses dos quadrinhos. Convenhamos, principalmente para esse último filme, que se propõe a apresentar o universo Ultimate, a última coisa que eu deveria ver era o Aranha, muito menos se ele fez ou não seus movimentos iguais aos desenhos de McFarlane, que são justamente os quadrinhos do universo clássico.

Para o próximo filme (já foi previsto que haverá uma trilogia), não me surpreenderia se a Gwen Stacy não morrer ou se a Mary Jane aparecer e colocar o Parker em um triângulo amoroso mais baixo nível que poderiam colocar o personagem, depois desse tanto de erros impostos para o pobre Peter. Isso prova que as pessoas nunca vão valorizar a mídia dos quadrinhos se studios como a Fox ou a Sony não derem os devidos valores às suas adaptações. Elas realmente, deveriam prestar a atenção para a Marvel Studios, que lançou Hulk (com Edward Norton), os dois Homem de Ferro, Thor, Capitão América e, o mais recente, Vingadores e ponderar o que valorizar, se é apenas um filme de super heróis apenas para o público comum e infantil, ou, a exemplo da Marvel, respeitar o público dos quadrinhos e colocá-los na lista de pessoas que irão mais consumir o seu produto do que apenas crianças, que são um público muito passageiro, enquanto que o público fã de quadrinhos é um público eterno enquanto viver, acrescentando também que é independente.

*Todas as ilustrações apresentadas são do ilustrador da série Ultimate Spider Man, Mark Bagley

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